A fé cristã é uma completa confiança em Cristo, pela qual se realiza a
união com o Seu Espírito, havendo a vontade de viver a vida que Ele
aprovaria. Não é uma aceitação cega e desarrazoada, mas um sentimento
baseado nos fatos da Sua vida, da Sua obra, do Seu Poder e da Sua
Palavra. A revelação é necessariamente uma antecipação da fé. A fé é
descrita como "uma simples mas profunda confiança Naquele que de tal
modo falou e viveu na luz, que instintivamente os Seus verdadeiros
adoradores obedecem à Sua vontade, estando mesmo às escuras". A mais
simples definição de fé é uma confiança que nasce do coração.
II- A Fé no AT
A
atitudes para com Deus que no NT a fé nos indica, é largamente
designada no AT pela palavra "temor". O temor está em primeiro lugar que
a fé; a reverência em primeiro lugar que a confiança. Mas é
perfeitamente claro que a confiança em Deus é princípio essencial no AT,
sendo isso particularmente entendido naquela parte do AT, que trata dos
princípios que constituem o fundamento das coisas, isto é, nos Salmos e
nos Profetas. Não es está longe da verdade, quando se sugere que o
"temor do Senhor" contém, pelo menos na sua expressão, o germe da fé no
NT. As palavras "confiar" e "confiança" ocorrem muitas vezes; e o mais
famoso exemplo está, certamente, na crença de Abraão (Gn 15.6), que nos
escritos tanto judaicos como cristãos é considerada como exemplo típico
de fé na prática.
III- A Fé, nos Evangelhos
Fé é uma das
palavras mais comuns e mais características do NT. A sua significação
varia um pouco, mas todas as variedades se aproximam muito. No seu mais
simples emprego mostra a confiança de alguém que, diretamente, ou de
outra sorte, está em contato com Jesus por meio da palavra proferida,
ou da promessa feita. As palavras ou promessas de Jesus estão sempre, ou
quase sempre, em determinada relação com a obra e a palavra de Deus.
Neste sentido a fé é uma confiança na obra, e na palavra de Deus ou de
Cristo. É este o uso comum dos três primeiros Evangelhos (Mt 9.29;
13.58; 15.28; Mc 5.34-36; 9.23; Lc 17.5,6). Esta fé, pelo menos naquele
tempo, implicava nos discípulos a confiança de que haviam de realizar a
obra para a qual Cristo lhes deu poder; é a fé que opera maravilhas. Na
passagem de Mc 11.22-24 a fé em Deus é a designada. Mas a fé tem, no NT,
uma significação muito mais larga e mais importante, um sentido que, na
realidade, não está fora dos três primeiros Evangelhos (Mt 9.2; Lc
7.50): é a fé salvadora que significa salvação. Mas esta idéia
geralmente sobressai no quarto evangelho, embora seja admirável que o
nome "fé" não se veja em parte alguma deste livro, sendo muito comum o
verbo "crer". Neste Evangelho acha-se representada a fé, como gerada em
nós pela obra de Deus (Jo 6.44), como sendo uma determinada confiança na
obra e poder de Jesus Cristo, e também um instrumento que, operando em
nossos corações, nos leva para a vida e para a luz (Jo 3.15-18; 4.41-53;
19.35; 20.31, etc). Em cada um dos evangelhos, Jesus proclama-Se a Si
mesmo Salvador, e requer a nossa fé, como uma atitude mental que devemos
possuir, como instrumento que devemos usar, e por meio do qual possamos
alcançar a salvação que Ele nos oferece. A tese é mais clara em João do
que nos evangelhos sinóticos, mas é bastante clara no último (Mt 18.6;
Lc 8.12; 22.32).
IV- A Fé, nas Cartas de Paulo
Nós somos
justificados, considerados justos, simplesmente pelos merecimentos de
Jesus Cristo. As obras não tem valor, são obras de filhos rebeldes. A fé
não é uma causa, mas tão somente o instrumento, a estendida mão, com a
qual nos apropriamos do dom da justificação, que Jesus pelos méritos
expiatórios, está habilitado a oferecer-nos. Este é o ensino da epístola
aos Romanos (3 a 8), e o da epístola aos Gálatas. Nos realmente estamos
sendo justificados, somos santificados ela constante operação e
influência do Santo Espírito de Deus, esse grande dom concedido à
igreja e a nós pelo Pai por meio de Jesus. E ainda nesta consideração a
fé tem uma função a desempenhar, a de meio pelo qual nos submetemos à
operação do E. Santo (Ef 3.16-19).
V- Fé e Obras
Tem-se
afirmado que há contradição entre Paulo e Tiago, com respeito ao lugar
que a fé e as obras geralmente tomam, e especialmente em relação a
Abraão (Rm 4.2; Tg 2.21).
Fazendo uma comparação cuidadosa entre os
dois autores, acharemos depressa que Tiago, pela palavra fé, quer
significar uma estéril e especulativa crença, uma simples ortodoxia, sem
sinal de vida espiritual. E pelas obras quer ele dizer as que são
provenientes da fé. Nós já vimos o que Paulo ensina a respeito sa fé. É
ela a obra e dom de Deus na sua origem, e não meramente na cabeça; é uma
profunda convicção de que são verdadeiras as promessas de Deus em
Cristo, por uma inteira confiança Nele; e deste modo a fé é uma fonte
natural e certa de obras, porque se trata duma fé viva, uma fé que atua
pelo amor (Gl 5.6).
Paulo condena aquelas obras que, sem fé, reclamam
mérito para si próprias; ao passo que Tiago recomenda aquelas obras que
são a conseqüência da fé e justificação, que são, na verdade, uma prova
de justificação. Tiago condena uma fé morta; Paulo louva uma fé viva.
Não há pois, contradição. A fé viva, a fé que justifica e que se
manifesta por meio daquelas boas obras, agradáveis a Deus, pode ser
conhecida naquela frase já citada: "a fé que atua pelo amor".
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